{{{title}}}
{{{excerpt}}}
Resultado não encontrado para: ''
Marcela Rocha, economista-chefe da Claritas Investimentos
O resultado das eleições presidenciais nos Estados Unidos ainda não está definido e em uma disputa muito mais acirrada do que o indicado pelas pesquisas de opinião, o desfecho pode demorar mais alguns dias para ser conhecido.
No entanto, com o resultado dependendo de a apuração evoluir em somente cinco estados, já é possível desenhar um cenário mais claro sobre a corrida eleitoral e suas consequências para os mercados.
Com maiores chances de ganhar nos Estados de Georgia e Pensilvânia, e liderando no Arizona e em Nevada, o candidato democrata, Joe Biden, caminha para ser eleito. Sua vitória era indicada pela maioria das pesquisas e era aguardada pelo mercado. No entanto, com resultados tão apertados em diversos Estados e elevado número de votos por correio, o presidente Donald Trump confirma que irá contestar o resultado do pleito na Suprema Corte. Apesar de suas ameaças terem poucas chances de prosperarem, uma vez que não existem evidências de fraudes, quaisquer disputas na justiça americana e demora de Trump em aceitar o desfecho da eleição, adicionam incerteza e podem elevar a volatilidade dos mercados nas próximas semanas.
A maior surpresa dos primeiros resultados, porém, está na disputa pelo controle do Senado americano. A despeito de conseguirem ganhar espaço em alguns estados e manterem a maioria na Câmara dos Deputados, as vitórias dos democratas não são suficientes para o partido conquistar o Senado. Sem esta maioria, o sonho da “Onda Azul” dos democratas fica distante e o cenário precificado pelo mercado de alta chance de implementação de toda a agenda proposta por Biden fica comprometido.
Assim, a pergunta mais importante neste momento para os mercados deve ser: o que esperar de um governo Biden com Congresso dividido?
Em um primeiro momento, há um grande alívio. Afinal, sem os democratas terem maioria no Congresso, Biden não conseguirá apoio para aprovar diversas das suas propostas que afetam negativamente empresas listadas nos EUA, como aumento dos impostos corporativos e regulação do setor de tecnologia.
Por outro lado, sem a “onda azul”, a chance de um expressivo pacote de estímulo fiscal diminui significativamente. Com os republicanos no Senado, o estímulo de cerca de US$ 2 trilhões almejado pelos democratas fica distante e Biden deverá fazer um grande esforço para tentar aprovar um montante superior a US$ 500 bilhões.
Sem este grande impulso no curto prazo e com incerteza a respeito da briga judicial sobre o resultado da eleição, o cenário para o crescimento global nos próximos meses fica ainda mais desafiador. Afinal, o ritmo da atividade econômica já passa por moderação e com avanço dos casos de Covid-19 nos Estados Unidos e na Europa, diversas medidas de restrições que foram anunciadas podem levar a uma brutal desaceleração do crescimento. Adicionalmente, caso a situação da pandemia nestes países não seja controlada rapidamente e uma vacina contra o coronavírus não avance no período, a volta dos “lockdowns” mais rígidos não deve ser descartada.
A boa notícia é que sem este estímulo fiscal robusto e crescimento ainda frágil, a política monetária nos países desenvolvidos deve continuar extremamente acomodatícia.
Neste cenário, um Congresso americano dividido com Biden presidente, não altera o cenário prospectivo positivo para os ativos de risco nos próximos meses devido à ampla liquidez e a expectativa de taxas de juros baixas por um longo período. No entanto, a falta do robusto pacote fiscal no curto prazo, leva os mercados a voltarem a ficar mais atentos aos indicadores de atividade corrente e aos desdobramentos da pandemia, como número de novos casos, medidas de restrição e evolução de uma eventual vacina contra o coronavírus.
Por fim, para economias emergentes, o cenário de Biden presidente com o Congresso dividido, pode ser mais favorável. Além de grande parte dos países em desenvolvimento, por ora, não sofrer com aumento dos casos de Covid-19 e se beneficiarem do ambiente de ampla liquidez, a melhor notícia para os emergentes fica por conta da política externa de Biden, que não depende do Congresso. O candidato democrata indica que mudaria a forma de negociar com a China, buscando menos atritos sem usar tarifas e ameaças constantes e fortaleceria as negociações multilaterais. Com uma distensão da guerra comercial, em um ambiente de juros baixos, a expectativa é de continuidade do enfraquecimento do dólar e aumento do fluxo de capitais para emergentes.
No entanto, como sempre, os países emergentes que devem ser mais beneficiados são aqueles com perspectivas favoráveis para o crescimento e responsabilidade fiscal. Assim, para que o Brasil possa usufruir de uma janela de oportunidade externa favorável, é imprescindível a manutenção do teto dos gastos e endereçamento de reformas. Caso o Brasil demonstre comprometimento fiscal nas difíceis decisões que serão tomadas até o final do ano, os ganhos com o cenário eleitoral nos EUA podem ser duradouros.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Pi Investimentos.